terça-feira, 3 de agosto de 2010

DOUTRINA DA TRINDADE

Introdução

Pretendo neste trabalho expor algumas das definições a respeito da doutrina da Trindade. Esta doutrina vem sendo há muito tempo discutida no âmbito da teologia sistemática, não somente nesse meio, mas também na esfera eclesiástica por pessoas leigas no assunto que tentam descobrir uma explicação clara a respeito da Trindade.
No início apresentarei o conceito de Trindade de forma geral, bem como seu surgimento e como se deu a idéia dessa doutrina. Em seguida irei expor alguns termos relacionado à Trindade e quem foi o idealizador dos mesmos.
Precisamos entender que esse trabalho não visa explicar a doutrina da Trindade, mas sim apresentar seu conceito e termos relacionados a ela. Temos que levar em consideração que essa doutrina é um mistério de Deus, sendo assim não vai ser apresentado aqui nenhuma nova concepção da Trindade.


1. Doutrina da Trindade

1.1Conceito de Trindade

Para começarmos a discorrer sobre a doutrina da Trindade especificamente, precisamos ter uma compreensão de forma geral do seu termo, lembrando que não existe um termo especifico para tal, sendo assim um mistério divino. A doutrina da Trindade é, sem dúvida alguma, um dos temas mais complexos da teologia cristã e requer uma cuidadosa discussão.
Pode ser que não cheguemos a um consenso, porém, no desenvolvimento da pesquisa, apresentaremos de forma mais ampla possível essa questão que na teologia sistemática já é assunto de debate há muitos séculos.
O surgimento da doutrina da Trindade segunda a tradição surge por volta do início do desenvolvimento da teologia cristã, isso se deu ao fato de os credos cristãos exercerem influência nas obras produzidas nesse período. Os credos começam com uma declaração de fé em Deus; sendo assim, era natural a muitos teólogos seguir esse modelo, tendo como ponto de partida no começo de suas obras um tipo de discussão relacionada à doutrina de Deus.
Podemos encontrar os fundamentos para essa doutrina no modelo da atividade divina, espalhado e testemunhado pelo Novo Testamento. Deus Pai é revelado na pessoa de Jesus Cristo por meio do Espírito. Nas escrituras do Novo Testamento, há uma ligação muito próxima entre o Pai, o Filho e o Espírito. Nós podemos perceber que por inúmeras vezes, as passagens do Novo testamento unem esses três elementos, sendo assim como uma parte inteira de um todo maior. Vemos que a totalidade do poder redentor de Deus somente poderia ser expressa por meio desses três elementos.
A complexidade de se entender a questão da Trindade parte do modelo de atividade divina, isto é, nas escrituras do Novo testamento encontramos três “personificações” de Deus: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
Nós não encontramos em parte alguma das escrituras a doutrina da Trindade, assim comenta McGrath:

A doutrina da Trindade pode ser considerada como resultado de um processo de reflexão crítico e contínuo sobre o modelo de atividade divina revelado nas escrituras e continuando na experiência cristã. Isso não quer dizer que as Escrituras contenham uma doutrina da Trindade, antes, as Escrituras testemunham um Deus que requer ser compreendido de forma trinitária.

Para entendermos o conceito de Trindade, é preciso ter em mente que ela é una, ou seja, tem três pessoas, mas apenas um Ser. Existe apenas uma divindade, com isso, a Trindade Pai, Filho e Espírito Santo são uma divindade apenas. É isso que nós veremos com mais detalhes no próximo tópico.

1.2 O desenvolvimento do termo

A terminologia aplicável à doutrina da Trindade é, sem dúvida, uma das maiores dificuldades de todas as pessoas que se detém ao assunto. A expressão “três pessoas, uma substância” essa expressão não fica de forma clara na mente humana, mas podemos verificar seu significado e importância, ou seja, entender os termos ligados a essa doutrina.
Para entendermos mais precisamente a terminologia característica da Trindade, faremos o uso do dicionário Bíblico Universal que trás a seguinte definição para o termo: “o reconhecimento de um só Deus, sendo feita, contudo a distinção, dentro da Divindade, entre Pai, Filho, e Espírito”.
O primeiro a utilizar esta forma de se nomear Deus foi Tertuliano. Ele definia Deus como a única substância divina, em três pessoas ou hipóstases. A palavra pessoa, a priori pode ser entendida de forma errada, ela é uma palavra latina (persona), que significa as várias faces de um ator, desta forma, Deus é um em suas três faces diferentes. No livro Calvino, Vida, Influência e Teologia, Wilson diz que: “A palavra pessoa, latina - persona corresponde à palavra grega hipóstasis. Daí o uso de subsistência, que parece melhor para distinguir cada um”.

Tertuliano foi o teólogo responsável pelo desenvolvimento do termo Trindade. Algumas pesquisas realizadas alegam que ele foi o criador de 509 novos substantivos, 284 novos adjetivos e 161 novos verbos na língua latina. Não nos surpreende o fato de ter surgido novos termos quando ele se dedicou a sua atenção em relação à doutrina da Trindade. Precisamos destacar três deles que são de suma importância:
Trinitas. Tertuliano criou a palavra “Trindade” (no latim, Trinitas), esse termo desde a sua época tornou-se característico da teologia cristã. Muitas outras possibilidades foram exploradas, mas era tão grande a influência deste teólogo que esse termo veio a ser normativo na igreja ocidental.
Persona. Esse termo latino foi introduzido por Tertuliano, para a tradução da palavra grega hypostasis, que estava sendo aceita nas igrejas de língua grega. Como já vimos a cima, a palavra pessoa que em latim (persona) significa as várias faces de um ator. Esse termo pode ter sido usado por Tertuliano para que seus leitores entendessem a idéia de “uma substancia, três pessoas”, no sentido de que Deus desempenhava três papéis distintos. Possivelmente ele queria mostra que por trás da pluralidade dos papéis encontrava-se um único ator.
Substantia. O plano de aplicar esse termo era para expressar a idéia da existência de uma unidade na Trindade, apesar da complexidade inerente à revelação de Deus na história. A “substância” é o que as três pessoas da Trindade têm em comum. Nós não podemos entender isso como alguma coisa que exista independentemente das três pessoas; mas pelo contrário, isso mostra o fundamento de sua unidade comum, apesar da distinção em suas manifestações exteriores.

1.3 As obras da Trindade ou Trindade econômica

A reflexão cristã a respeito da trindade é, como já vimos, o testemunho do Novo testamento em relação à presença e ação de Deus em Cristo e por meio do Espírito.
O processo da salvação segundo Irineu do início ao fim, testemunham a ação do Pai, Filho e Espírito Santo. Ele fez uso do termo que aparece com em discussões posteriores sobre a Trindade: “a economia (plano) da salvação”. Para uma melhor compreensão apresentarei a explicação do termo “economia”. “A palavra oikonomia significa basicamente “a maneira pela qual alguém administra seus negócios” (assim fica clara sua relação com o sentido atual da palavra)”.
Para Irineu, “a economia (plano) da salvação” era usado por ele significando “a maneira pela qual Deus administrou a salvação da humanidade na história”.
Tanto as definições mais antigas como as mais recentes a respeito da Trindade, atribuem diferentes funções a cada uma delas Guthrie diz que:

O Pai é o criador, o governador, o protetor e o preservador do mundo. O filho é o juiz o reconciliador e o salvador dos seres humanos. O Espírito santo é o Deus que atua no mundo para renovar e transformar os corações. Três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo. Três obras – Criação-preservação, reconciliação-salvação, renovação-transformação.

Não podemos afirmar que são três deuses diferentes, e nem que Deus faz três coisas diferentes. Antes, o Deus revelado na bíblia é um Deus único, e sua totalidade está envolvida em tudo o que Ele faz. Deus é o mesmo no Antigo e Novo Testamento. Os mesmos atos de Deus no Antigo Testamento são os atos revelados por Cristo e consequentemente pelo Espírito Santo. São obras distintas, porém presentes nas três pessoa da Trindade e reveladas por cada uma delas. Karl Rahner comenta que:

Na história da salvação, quer coletiva quer individual, vêm ao nosso encontro imediato não quaisquer forças numinosas que representem a Deus, mas nos vem ao encontro e nos é dado na verdade o próprio Deus único, que em sua absoluta singularidade – advém ele próprio onde nos achamos e onde o recebemos a ele próprio e como ele próprio em sentido escrito.

As suas obras são geralmente atribuídas de forma individual, entretanto, quando atribuímos a somente uma das pessoas, não estamos excluindo as outras. A criação é obra do Pai, a reconciliação é a obra do Filho e a santificação ou redenção é obra do Espírito. As diferentes obras das três pessoas podem ser colocadas lado a lado, contudo, não podemos separa-las. Suas vontades estão interligadas, o que o Filho quer, o Pai quer, o que o Espírito quer, o Pai e o Filho também querem, onde uma está atuando as outras duas pessoas está também, assim o Pai, o Filho e o Espírito são um, desta forma suas obras são indivisíveis.
Portanto, a Trindade e suas obras devem ser entendidas em sua totalidade, mesmo sendo atribuídas a pessoas diferentes, são obras de um único Deus. Deus este que sempre esteve presente na vida do ser humano e nos dá o exemplo de vida em comunhão.

Conclusão

Esse trabalho nos mostrou alguns conceitos da doutrina da Trindade tendo a seu desenvolvimento a partir do seu conceito e algumas definições do termo, cumprindo as suas normas nesse trabalho.
Podemos dizer que é de suma importância a nossa crença na doutrina da Trindade, embora as escrituras não trás esse termo, encontramos de uma forma implícita na bíblia. Afirmo que é importante a nossa crença na Trindade, porque quando assim fazemos, percebemos a “economia (plano) da salvação” e o amor de Deus para conosco, pobres seres humanos e pecadores.
Assim concluo dizendo que a Trindade veio ao longo de dois mil anos sendo estudada por muitos teólogos. Essa doutrina é importante, pois, nos revela o agir de um Deus, mas em três pessoas distintas, transmitindo seu amor e cuidado com ser humano.
A doutrina trinitária se ocupa tanto da natureza de Deus (teologia), ou seja, daquilo que Deus é, isto corresponde ao termo “Trindade Imanente”, se refere a vida e obra de Deus, do ponto de vista de Deus em si mesmo, quanto daquilo que Ele faz no processo de salvação (economia), esta corresponde ao termo “Trindade Econômica”. Estas, não podem ser separadas uma da outra, não significa duas Trindades, mas, maneiras nas quais o único Deus “é” Deus. (4) A linguagem bíblica é essencialmente “econômica”, revela a ação de Deus na história, pois não podemos conhecer o que Deus é; Ele é sempre mais do que podemos dizer Dele, mas, conhecemos de Deus a partir do que Ele faz.

Bibliografia

BRAATEN, Carl E; JENSON, Robert W. Dogmática Cristã. 2edição. Ed. Sinodal. São Leopoldo, 2002.
MOTMANN, Jürgen. Trindade e Reino de Deus. Ed. Vozes. Petrópolis, 2002.
BOFF, Leonardo. A Santíssima Trindade. Ed. Vozes Petrópolis, 1996.
FERREIRA, Wilson Castro. Calvino: Vida Influência e Teologia. Ed. “Luz Para o Caminho”. Campinas, 1985.
HAHNER, Karl. Curso Fundamental da Fé. Ed. Paulinas. São Paulo, 1989.
MCGRATH, Alister E. Teologia. sistemática, história e filosófica. Ed. Vida Nova. São Paulo, 2005.
BUCKLAND, Arcediago A.R. Dicionário Bíblico Universal. Ed. Vida. São Paulo, 1981.

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